1. "É indispensável uma estratégia de conhecimento" (p. 29).
2. "Assim, vemos que há diferença intrínseca, ao nível da representação, entre alucinação e percepção, mas a diferença é capital quanto ao sentido de ambas, e principalmente quanto a seu sentido de realidade ou de verdade" (p. 28).
3. "Precisamos mobilizar o espírito para controlar nossos olhos, precisamos mobilizar nossos olhos para controlar nosso espírito" (p. 31).
4. "Não existe teste prévio para reconhecer a boa e a má informação, a verídica e a falsa. Saber ler, ver, discernir, requer um difícil e aleatório esforço de decifração, não uma qualidade de verificação como a dos aparelhos que detectam o dinheiro falso" (p. 41).
5. "O que diz respeito ao já sabido, conhecido, garantido, é, segundo o termo da teoria da informação de Shannon, redundância. Um fato portador de informação é um fato que, ou põe um termo em dúvida, ou traz algo novo, isto é, uma surpresa" (p. 41).
6. "Quando não temos estrutura mental ou ideológica capaz de assimilar, situar a informação, esta torna-se ruído" (p. 43).
7. "Somos capazes de resistir às informações que não se adaptam à nossa ideologia, percebendo essas informações não com o informações, mas como trapaças ou mentiras" (p. 43 - em, itálico, no texto).
8. "Eu quase poderia formular esta lei psicossocial: uma convicção bem arraigada destrói a informação que a desmente" (p. 44).
9. "Seria necessário um livro inteiro para mostrar como se chega a não ver e a não saber. Com efeito, o que age em nós, ao mesmo tempo obscura e extralucidamente, é a vontade de impedir que a informação atinja a ideologia. Então, ela desvia a informação, isto é, desvia-se dela. A ideologia provoca a explosão da informação ('besteira! mentira! calúnia" [eu acrescentaria: heresia!]) para que a informação não a faça explodir" (p. 44-45).
10. "O que é uma ideologia do ponto de vista informacional? É um sistema de idéias feito para controlar, acolher, rejeitar a informação. Se a ideologia é teoria, ela é, em princípio, aberta à informação que não é conforme a ela, que a pode questionar. Se é doutrina, ela é, em princípio, fechada a toda informação não-conforme. A ideologia política é muito mais doutrina do que teoria. Neste ponto, chegamos ao problema capital: a relação repulsiva e potencialmente desintegradora entre informação e ideologia política. É pelo fato de que a informação é um explosivo virtual para a ideologia, que esta necessita manter uma relação opressora e repressora em relação à informação" (p. 45).
Edgar MORIN, Para Sair do Século XX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
OSVALDO LUIZ RIBEIRO